*Prof. Manuel Ruiz Filho
O badalar sonoro do sino tem causado desconforto a pessoas de nossa cidade. Eu não tenho dúvidas que isso não possa ser passageiro. Não que o sino irá aquietar-se. Isso nunca. Quem o colocou a badalar está seguro de si que tem atendido a uma grande parte da sociedade que há muito tempo estava ansiosa por isso. Inclusive eu. No mundo inteiro os sinos badalam. Nas catedrais que envolvem “Fátima” os sinos dobram de forma espetacular. Gravei um vídeo quando lá estive e vez por outra procuro ouvir o ’13 de maio’ que lá escutei ao som dos carrilhões. Será impossível, por capricho inconsequente, tentar inibir o som do badalo de um sino que promete esperança. Somos culpados por nos horrorizarmos hoje, mas nos esquecemos do amanhã quando há coisas muito mais importantes para se pensar e para fazer. Somos olhos que veem maldades das mais diversas, mas pouco se tem feito para se vencer erros. A cada dia, novo susto nos surpreende. Pessoas vivendo de forma animalesca, sem comportamento compatível com a nossa realidade, mas pouco nos importamos. Por essas nos omitimos. Por que não foram os reclamantes à justiça reivindicar melhores condições de vida àqueles que perambulam na praça? Esses vivem desgraçadamente a poder de migalhas! Isso não. Isso é problema só dos outros. Com isso não é preciso se preocupar. Temos nossos lares, nossas famílias, por que eles também não conservaram a deles? Irracional pensar assim. Insatisfação com o soar do sino, esse sim causa perturbações. Todas as Igrejas se manifestam em seus cultos dia e noite, com hinos de louvor a quem quer que seja extrapolando as quatro paredes de cada templo com sons peculiares dessa atividade, sem nenhuma reclamação dos que as circundam. Viver em sociedade é isso. Mas o sino da Matriz é diferente. Ele não apenas marca as horas, ele perturba. Há muito tempo atrás, John Donner escreveu: “nenhum homem é uma ilha, que se basta a si mesma. Somos parte de um continente; se um simples pedaço de terra é levado pelo mar, a Europa inteira fica menor. A morte de cada ser humano me diminui, porque sou parte da Humanidade. Portanto, não me perguntem por quem os sinos dobram: eles dobram por ti.” O mundo todo tem sido diariamente vítima de atrocidades inimagináveis e poucos são os advogados desses problemas. A maioria das pessoas fica postada em seu canto como se a dor do semelhante fosse exclusividade dele. De sorte não somos uma ilha, somos parte de uma coletividade que luta por tempos melhores. Não existem fórmulas para resolver todas as situações desalinhadas, mas temos consciência que não somos uma ilha. Lutemos por causas nobres. Mesquinharia é coisa de gente inculta, de pessoa que pouco tem a fazer. Evitemos colocar culpa nos outros, na polícia, nos políticos, nos assaltantes, nas diferenças sociais, nas condições econômicas incompatíveis, nas religiões. Vamos lutar por coisas decentes e sadias, mas que toda a sociedade se beneficie com isso. Parabenizo o pároco pela brilhante ideia de trazer de novo ao povo desta cidade o som do sino, suplantado pelas sirenes das ambulâncias, do samu, do bombeiro e que ninguém reclamou dado a necessidade e a importância que têm. Também não se tem conhecimento de boletins de ocorrências decorrente do som atordoante dos shows carnavalescos e de tantos outros promovidos em casas noturnas e nem seria isso necessário, faz parte da cultura de um povo. O pároco atendeu a milhares de pedidos e não será o capricho de meia dúzia de pessoas que irá afogar os anseios de uma comunidade. Também não acredito que a Justiça vá dar amparo a assuntos de singular relevância e que em nada denigre a perturbação da ordem. Liga não, caco de vidro eternamente terá inveja de diamantes.
*Prof. Manuel Ruiz Filho