Em meio à maior crise que enfrenta desde o início de seu governo, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira (25), em Feira de Santana (BA), que não é possível reduzir o preço do diesel, uma das principais reivindicações dos caminhoneiros que bloqueiam estradas em ao menos 12 Estados, provocando o desabastecimento em várias regiões do país.
"O governo não tem como baixar o preço do diesel", disse. Segundo a presidente, o governo não elevou o preço do óleo, mas apenas recompôs o valor da Cide (tributo regulador do preço de combustíveis). "O que fizemos foi recompor a Cide. E não elevamos uma vírgula o preço dos combustíveis e nem abaixamos", afirmou.
A presidente reclamou que o governo foi criticado quando baixou a Cide, e também quando o tributo foi retomado. "Quando a parte dura da crise começou, nós baixamos a Cide para poder ter um enfrentamento da crise. Agora nós achamos que é hora de voltar com a Cide."
Dilma não detalhou quais medidas o governo vai oferecer aos caminhoneiros em rodada de negociações que está prevista para ocorrer nesta tarde, em Brasília.
Os caminhoneiros, que fazem protestos pelo país desde a semana passada, pedem redução no preço do diesel e do pedágio, tabelamento dos fretes e a sanção, por parte de Dilma, de mudanças na legislação que flexibilizam a jornada de trabalho -a categoria quer a liberação de mais horas trabalhadas por dia para aumentar os ganhos.
O governo teve dificuldades nos últimos dias para resolver o problema porque não conseguia identificar líderes que respondessem por todo o conjunto de manifestantes.
Responsáveis, em média, por 58% do transporte de mercadorias no país, segundo o Ministério dos Transportes, os caminhões têm participação ainda mais alta em setores como o de grãos.
Nesta quarta, o número de rodovias federais com trechos interditados pela paralisação caiu. São 99 pontos nesta manhã, ante 115 registrados na noite de terça, segundo a Polícia Rodoviária Federal.
Em São Paulo, a paralisação afeta apenas uma rodovia estadual, de acordo com a polícia. Cerca de 150 caminhoneiros se reúnem as margens da rodovia Raposo Tavares, na altura do quiilômetro 433, na cidade de Cândido Mota (431 km de São Paulo).
Apenas uma faixa da rodovia está liberada, por onde passam veículos de passeio e caminhões que transportam carga viva, informou a assessoria de imprensa da Polícia Rodoviária Estadual.
SÃO PAULO
Apesar de ter só uma rodovia diretamente atingida, São Paulo começa a ter o abastecimento de frutas afetado pela greve.
O Ceagesp registra uma queda de 10% no recebimento de frutas produzidas na região Sul do país, como melancia, maçã, pera e ameixa. Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina estão entre os Estados mais afetados pela manifestação dos caminhoneiros.
Atacadistas também apontam que, a partir do final desta semana, a oferta de produtos como banana, mamão e morango também pode diminuir.
As cargas dessas mercadorias estão paradas em Governador Valadares (MG) e nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte (MG) e de Curitiba (PR). Segundo a assessoria de imprensa do entreposto, há carregamentos retidos nas rodovias desde o último domingo (22), o que já ocasionou perdas.
O abastecimento de verduras, legumes e hortaliças, no entanto, ainda não é afetado, pois cerca de 80% desses alimentos vendidos na Ceagesp são produzidos no Cinturão Verde de São Paulo, região que abrange cidades como Mogi das Cruzes, Suzano e Jundiaí -região onde ainda não há bloqueio de rodovias.
Ao contrário do que ocorreu em regiões dos Estados do Sul do país e no Mato Grosso, São Paulo não enfrenta escassez de combustível. Segundo José Alberto Gouveia, presidente do Sincopetro (sindicato dos postos), o Estado -principalmente a região metropolitana de SP- não foi afetada porque as rodovias que ligam os centros distribuidores às principais cidades não foram bloqueadas.
"Ainda não tivemos queixa dos postos de São Paulo. A Castello Branco, por exemplo, não teve problema", diz. Barueri, que tem ligação com a rodovia, concentra um polo distribuidor de combustível.