Um dia, um amigo deste colunista o convidou para uma reunião em família, em que todos tentavam convencer o pai a se candidatar a prefeito de sua cidade. Este colunista foi contra: tratava-se de um senhor muito respeitado, homem de bem e do bem, e não se sentiria bem no clima de moedor de carne de uma campanha eleitoral. “Mas que é que podem falar dele?”, insistiu o filho. “Nunca fez nada de errado”. As coisas não são bem assim, expliquei: se não atacarem o pai, vão atacar o filho. “Podem dizer qualquer coisa. Podem dizer até que você é pai solteiro”. Silêncio total: o rapaz era pai solteiro. E não se falou mais em eleição.
Esta história vale, hoje, para quem quer ser ministro. Examine-se, primeiro. E que os órgãos de investigação da Presidência (ou dos Governos estaduais, ou das Prefeituras) levantem cuidadosamente sua ficha. Não ser convidado para ministro ou secretário não deslustra ninguém. Ser derrubado por malfeitos, deslustra.
O mínimo a que esse povo que se dedica a malfazer (e esconder os malfeitos para não prejudicar sua carreira política) poderia se dedicar é a mentir junto. Combinar a história com os cúmpl..., desculpe, os parceiros, para que não haja esse constrangedor choque de versões. Pagaram por isso, não pagaram, ah, sim, pagamos, mas a nota fiscal deve ter caído atrás de algum móvel e a gente não acha - que horror! Tudo bem, estar lá em cima facilita a roubalheira, mas politicamente ser apanhado é um desastre. Faz mal até à presidente, que os nomeou.
Vá lá, sejamos bem tolerantes. Mas eles poderiam ao menos ter bons modos.
Estava fora de lugar
Nessa história toda do ministro Fernando Pimentel, que dava consultoria mas quem o contratava não sabia, ou talvez soubesse, quem não sabe somos nós, foi um aliado dele que deu a melhor definição do que aconteceu- e ainda por cima tentando ajudá-lo: Robson Andrade, que era presidente da Federação das Indústrias de Minas, explicando o pagamento de R$ 1 milhão por uma consultoria que não conseguiu definir. “Quanto vale um dia de conversa com a pessoa que tem conhecimento estratégico sobre como trabalhar com o governo?”
Nenhum oposicionista, por mais radical, deu uma explicação tão prejudicial ao ministro.
E posso não lhe agradar
Certa vez, o governador paulista Adhemar de Barros, recém-eleito, foi insistentemente assediado por um importante executivo, que queria a presidência do Banco do Estado. Adhemar o driblou enquanto pôde, depois decidiu o assunto, com sua típica voz anasalada: “No banco você não pode. Você mete a mão”.
Mas o mundo foi rodando
O revide do Governo à oposição demorou, mas chegou: é o livro A Privataria Tucana, do repórter Amaury Ribeiro Jr. O tema, segundo as informações da editora, denuncia espionagem do tucano José Serra contra o também tucano Aécio Neves e aponta desvio de dinheiro, oriundo de privatizações no Governo do PSDB, para paraísos fiscais. O livro acaba de ser lançado e este colunista ainda não o viu.
De acordo com o noticiário distribuído pela editora, as acusações são pesadas e atingem a filha de Serra, Verônica, e seu marido Alexandre Bourgeois.
Estavam fora de lugar
O PSDB tem quatro, cinco ou seis pré-candidatos à Prefeitura paulistana: quatro que já se apresentaram (os secretários Bruno Covas, Andréa Matarazzo e José Aníbal, e o deputado federal Ricardo Tripoli); um, o empresário João Dória Jr., se filiou agora ao partido, embora seja tucano de tradição, e amigos do governador Alckmin o citam como eventual candidato; e José Serra, que diz que não é mas talvez seja forçado a ser.
Quem tem tantos candidatos, claro, não tem nenhum. Ou talvez tenha um, ou mais de um: muita gente acredita que o candidato de Alckmin é Gabriel Chalita, seu ex-secretário e amigo, que sai pelo PMDB, e o de Serra é Guilherme Afif Domingos, ligadíssimo a seu aliado Kassab, do PSD.
*Carlos Brickmann é jornalista