O que significa falar em erro, quando o que se pretende é autonomia intelectual e ética? Onde está o erro, quando o que se busca é um pensamento critico e criativo?
Essas questões nos remetem à natureza do erro na trajetória da educação. Inicialmente, o maior erro, que implica contradição interna com a educação, consiste na renúncia ao pensar, no não querer aprender ou, para servir-nos de uma expressão de Kant, na falta de ousadia ou na covardia de quem tem em si todas as condições para a emancipação ou maioridade. Considerando a racionalidade como potencialidade humana, a função do professor, que assume sua identidade de educador, é despertar a sensibilidade e o querer para a formação das estruturas mentais, das competências, que se expressarão nas múltiplas habilidades correlacionadas.
Em segundo lugar, o erro possível e muito presente nos alunos é a falta de rigor e a incoerência argumentativa. O colega professor, seguramente, deve se deparar constantemente com isso. Nossos alunos, quando desafiados para fazerem a defesa de um ponto de vista, muitas vezes fazem uso de orações fragmentadas, desconexas; outras vezes, incorrem em pensamentos falaciosos, dos mais diversos tipos.
Quando o erro não consiste na falta de coerência, está na contradição. Muitas vezes, encontramos contradições na argumentação oral ou escrita. Esse é um erro que deve ser rigorosamente sinalizado e superado. Não se trata de o aluno ser a favor de ou reproduzir uma ideia, a não ser que essa seja a solicitação de um comando; trata-se de ele mostrar a cara, expor seu ponto de vista de forma coerente. Aqui, um grande recurso é o trabalho bem articulado com português e produção de texto, no recurso constante e correto dos termos coesivos, dos conectivos.
Outro erro muito comum, que pode ser verificado na interpretação de texto, é atribuir ao texto informações, dados ou conclusões que o texto não permite. Ora, diante de um texto, existe relativa objetividade possível, que o aluno deve ser capaz de perceber. É preciso educar a sensibilidade do olhar do aluno para a habilidade de perceber a tese, ou o pressuposto ou as decorrências explicitas no texto e mesmo ser apto para perceber, a partir do dado, o que está implícito ou ser competente para inferir possibilidades.
Diante desses “erros” ou inabilidades diagnosticados, a nossa função está em intervir com as melhores estratégias. E as melhores estratégias necessariamente são plurais, considerada a heterogeneidade de todo grupo humano e de suas formas de perceber, apreender e construir sentido. Nessa lógica e nessa dinâmica, há um erro inaceitável: o erro do professor que não considera, em sua prática, a dimensão diagnóstica, processual e formativa da avaliação ou que faz do erro do aluno um instrumento de manipulação e punição vingativa.
Para o aluno, a percepção do erro deve estar vinculada à noção de processo maturativo, de aprendizagem. A associação do erro à perda de pontuação em avaliação formal, pode ser, para alguns, motivador de maior atenção, uma vez que os erros, em sua maioria das vezes, acontecem não por incompetências, mas por distrações, divagações, falta de concentração.
Dessa forma, quem se entrega ao ato de educar e cultiva a potencialidade do aluno considera o erro grande aliado da aprendizagem, não só sob o aspecto cognitivo, mas também moral e afetivo.
Não deve haver conivência com o erro, tampouco falta de atenção. É preciso se concentrar na história do erro e em suas decorrências.
O que o colega professor não deve esquecer jamais é que os alunos se encontram em formação. Encontram-se justamente na fase do “erro”, ou seja, na fase da aprendizagem. E a nossa função é justamente trabalhar esse erro. O nosso erro é julgar que os alunos estejam prontos. Ou seja, a educação está no processo.
Aqui se coloca um dos sinais da autenticidade de nossa vocação educativa: a sensibilidade e o amor à arte de lapidar a alma humana.
*Celito Meier é teólogo, filósofo e educador