Foi amplamente divulgado nos meses de dezembro e janeiro que o Brasil se tornou a 6ª maior economia do mundo. Duas posturas que se deveriam evitar: a) uma visão ufanista; b) uma visão ingênua. O ufanista julga que o país é o melhor dos países existentes, que tudo aqui dá certo (lembram do slogan “tudo que planta dá!”). O ingênuo acha que agora, definitivamente, está excelente vivermos aqui (“temos as olimpíadas e a copa do mundo como provas disso!”, diria ele).
Longe de ser pessimista quanto ao país, julgo que devemos meditar sobre essa informação. Em primeiro lugar, ao se tornar a 6ª economia do mundo, o Brasil melhorou sua infraestrutura? Não! Continuamos com os mesmos problemas básicos que estamos convivendo há muitas décadas.
Aeroportos, estradas, portos e ferrovias precisam de mudanças significativas, mas ouvimos isso há bastante tempo. Os aeroportos e portos estão saturados (será que o primeiro conseguirá suprir a demanda em 2014?). As estradas, mesmo privatizadas, estão esburacadas e sem condições de transitar. (quem pegou as estradas nesse final de ano, pôde perceber na prática). As poucas linhas férreas existentes estão enferrujadas e tomadas pelo mato. Como é possível escoar as produções sem boas estradas e ferrovias?
As cidades continuam a crescer desordenadamente, tornado os trajetos diários insuportáveis (Belo Horizonte tem se tornado “hour concurs” nesse aspecto!). Todos os governos incentivam a produção automobilística, mas se esquecem do transporte público, das ruas e avenidas (em BH, após terminarem a reformulação de determinadas avenidas, que levaram até 4 anos, tiveram a brilhante ideia de colocarem o BrT, transporte rápido, o que acarretou a nova reforma nas vias, ou seja, quebraram o asfalto colocado recentemente!!!).
Apesar dos avanços significativos nas telecomunicações na última década, continuamos a pagar uma das mais caras taxas telefônicas do mundo; como também são caras a internet e a TV fechada. Em várias localidades do país os sinais da telefonia móvel ou de internet são difíceis de acessar.
Embora tenha havido grande incentivo do governo anos atrás em relação ao biocombustível e, mais recentemente, ao combustível fóssil (olha o pré-sal!), o país não conseguiu se preparar para a grande demanda. Hoje em dia o biocombustível não compensa economicamente, pois está em falta (de acordo com os especialistas só a partir de 2020 para compensar, caso seja feita um política pública agora), e o combustível fóssil também é oneroso.
Mesmo havendo suscetibilidade em algumas regiões, doenças endêmicas como a dengue e a cólera são exemplos de que ainda estamos longe de um saneamento básico completamente adequado. Enchentes, falta de rede de esgoto e água potável são elementos catalisadores para essas e outras doenças.
Deve-se evitar usar politicamente tal colocação econômica para esconder os problemas destacados no artigo, como vimos alguns setores governamentais fazerem. Tal posição seria extremamente importante se junto dela estivesse atrelada a melhora desses âmbitos.
Se não transformarmos em infraestrutura tal posição, e resolvermos questões antigas e primordiais, o país pode ser a 1ª economia do mundo, que nós, cidadãos, não teremos nenhum motivo para comemorar.
*Émilien Vilas Boas Reis é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais