O ex-prefeito de Curitiba e ex-ministro Rafael Greca deu um recado claro aos participantes do Encontro Regional do PMDB, em 11 de fevereiro: é preciso pensar nas cidades e no bem-estar das pessoas pela ótica da Ecologia Humana, sustentada na boa relação do ser humano com seu ambiente natural.
O Brasil é hoje um País essencialmente urbano, com todos os problemas que a alta concentração populacional causa. As demandas por moradia, emprego e equipamentos públicos multiplicam-se numa velocidade acima da capacidade de atendimento dos governos.
O resultado é uma sucessão de problemas urbanos: inchaço das cidades; ocupação de áreas de risco; inundações decorrentes da invasão de várzeas e da impermeabilização do solo; más condições de vida para os mais pobres; problemas com a destinação correta do lixo, entre outros. Enfrentar este leque de demandas é dever dos gestores, mas a tarefa não é das mais simples. A cada ano tais problemas se agravam.
Um dos exemplos de intervenção urbana radical, citados por Rafael Greca, foi a remoção de favelas de áreas de risco em Curitiba. A opção foi criar bairros novos, colocando lá, antes das casas, todos os equipamentos públicos necessários ao atendimento da população, da escola à creche e ao posto de saúde.
O urbanista nos leva a refletir sobre o que fazer daqui em diante, já que os males urbanos estão instalados e se agravando. As inundações que atingem até a planejada Curitiba, segundo o urbanista, podem ser mitigadas nas novas áreas de expansão urbana com uma drenagem adequada e natural.
A tradicional canalização dos rios em “catacumbas de concreto”, reconhece Greca, já não é a solução mais adequada. Ele convida à reflexão: “dentro do conceito da ecologia humana, a drenagem superficial se faz criando parques nas margens e dando espaço ao rio, com área para alagamento, manutenção dos meandros de forma que os rios possam ter o tamanho de seu vale inteiro. A cada 100 anos repetem-se as cheias históricas. As cidades ignoraram isto e alagam catastroficamente”.
Outro grave problema urbano é a separação e a destinação correta do lixo tradicional e do lixo tecnológico. O urbanista alerta que rejeitos e resíduos entopem bueiros, galerias e rios e ameaçam a saúde. O Brasil precisa de processos inovadores de reciclagem de fitas VHS, lâmpadas fluorescentes (mercúrio), baterias de celulares (que contém ouro, prata, platina, cádmio, bário e fósforo), cabos de computadores, plásticos usados na indústria eletrônica, entre outros.
Ele propõe como solução estimular a criação de pólos industriais de reciclagem para transformar pet em tecidos, pneus velhos em asfalto e pisos, plásticos em matéria-prima granulada, esgoto em energia e resíduos de construção em novos materiais.
Os desafios urbanos, de fato, renovam-se a cada dia. Não basta apenas o poder público fazer sua parte. Ecologia humana é também cidadania. É preciso o engajamento da população para aplicar a receita do urbanista: reduzir espaços ociosos, propícios à criminalidade e a insalubridade; inserir famílias de migrantes no contexto da cidade; diversificar a vizinhança e fazer habitação de qualidade para a população de baixa renda.
A palestra terminou com uma frase para reflexão:“As cidades não precisam ser governadas, precisam ser educadas” (Sócrates, referido por Platão, século V a.C.) Foi pensando em estimular o debate e a reflexão que o PMDB iniciou um ciclo de palestras técnicas. Novos temas virão, como a Educação e a Geração de Empregos.
* Edinho Araújo é deputado federal (PMDB) e ex-prefeito de Rio Preto