Nunca se viu tanto interesse pelo clima, como em nossos dias. Ele faz parte da agenda de qualquer noticiário. Na hora das informações sobre o clima, até as visitas ficam caladas para escutar melhor a previsão do tempo!
Uma primeira explicação por este súbito interesse pelo tempo se encontra, sem dúvida, na apreensão diante das mudanças climáticas, que parecem se confirmar de maneira cada vez mais clara. Em todo o caso, como costuma advertir a comissária de bordo, “passamos por uma área de turbulência”. O que vai resultar destas mudanças, ainda não se sabe. A natureza tem fôlego de milhões de anos. Mas é bom estarmos atentos. Até para ver se em cada dia as previsões do tempo são confirmadas ou não!
Quem mais olha com apreensão para o tempo são os agricultores. Para eles não se trata só de curiosidade. É a safra que está em jogo. Com frequência ela fica comprometida por completo, como está acontecendo neste ano em diversas regiões do país, sobretudo pela seca persistente que assola as plantações bem no momento da floração e da formação do grão, quando mais a plantação precisa de umidade.
Pelos riscos a que está sujeita a agricultura, e pela importância fundamental da produção agrícola para atender às necessidades da alimentação, muitos países organizam todo um sistema de proteção especial para a agricultura. Assim ela pode contar com garantias que resguardem sua continuidade, independente das oscilações das safras.
Infelizmente no Brasil este sistema é ainda muito precário. Muitas vezes os agricultores precisam arcar sozinhos com o prejuízo, num ano de safra frustrada. E quando a safra vai bem, com frequência o agricultor é explorado na venda do seu produto, que fica à mercê de grandes corporações que conseguem interferir nos preços.
Todas as atividades econômicas são importantes. Mas nenhuma tem mais influência direta sobre a população, do que a agricultura. Precisamos fortalecer a consciência de que a agricultura interessa diretamente a todos. E no Brasil interessa mais ainda, pela alta porcentagem que representa o comércio agrícola para garantir divisas para o país.
Esta consciência deveria se traduzir num sistema de proteção à agricultura, que tornasse muito mais seguro o trabalho agrícola.
Os agricultores precisam se sentir estimulados a continuar na agricultura. Em algumas regiões do Brasil já é evidente o abandono progressivo da atividade agrícola. Seria triste se por falta de uma política agrícola adequada, víssemos a última geração de pequenos agricultores abandonarem sua profissão, por falta de estímulo para continuarem com um trabalho tão cheio de riscos e incertezas, acrescido do descaso da população e dos poderes públicos.
Dentro deste contexto foi feito um trabalho válido, mesmo se não compreendido por todos, na discussão do novo Código Florestal. Ficou garantido um capítulo de proteção especial para os pequenos agricultores. Pois o novo Código não podia se constituir em novo desestímulo para os que sempre se sentiram os primeiros responsáveis para preservar o meio ambiente.
Em recente reunião das “pastorais do campo”, seus participantes manifestaram apreensão diante da ameaça aos “espaços de reprodução física e cultural dos povos e comunidades campesinas”. Em outras palavras, diante do risco de ver inviabilizada, concretamente, a próxima geração dos pequenos agricultores. Seria um desastre, não só econômico, mas sobretudo humano e social.
Os pequenos agricultores precisam de grande apoio. Para o bem de todos nós!
*Dom Demétrio Valentini é Bispo de Jales (SP) e Presidente da Cáritas Brasileira