Greve de policiais na Bahia e no Rio, articulações entre dirigentes sindicais da Polícia dos dois Estados, gravação que sugere vandalismo - como queimar duas carretas numa estrada, para paralisá-la. Nos Governos, duas pessoas que devem ser boas, simpáticas, agradáveis, mas que haja ou não problemas preferem viajar para o Exterior. O fluminense Sérgio Cabral, entre uma viagem e outra, fala grosso; e se falou, tá falado, não se preocupa em dar consequência ao que disse. O baiano Jaques Wagner nem fala grosso, e não pode: quando estava na oposição, apoiou greves iguais, como se uma tropa armada pudesse, na boa, ignorar o poder civil. E, mantida ou suspensa a greve, foi o que aconteceu na Bahia.
De volta para o passado? Não - ainda não. Não há insubordinação nas Forças Armadas, não há mobilização civil, ninguém sério pensa em derrubar o Governo. Não há hoje, no Exército, nenhuma liderança expressiva, exceto a do general Augusto Heleno, que já passou para a reserva (o que significa, entre os militares, a perda de boa parte da influência que pudesse ter tido). Não há mais a Guerra Fria, que anabolizava conflitos internos e lhes dava repercussão internacional.
Tudo bem? Também não: até 30 de março de 1964, o general Mourão Filho, que tomou a iniciativa de derrubar o Governo, só era conhecido por algo folclórico, a elaboração, quase 30 anos antes, do Plano Cohen, usado como justificativa por Getúlio Vargas para implantar a ditadura de 1937.
Se o gato está no telhado, é bom ir buscá-lo antes que haja um acidente.
Com quem contar?
E, no caso, não dá nem para chamar os bombeiros para recolher o gato.
Quem conta
Um detalhe do caso da greve baiana passou despercebido. No ano passado, também em fevereiro, os deputados estaduais baianos receberam aumento de pouco mais de 60%, que eles mesmos se concederam no final de 2010. Com isso, seus vencimentos chegaram pertinho dos R$ 20 mil mensais (fora auxílios, assessores, motoristas, secretárias, etc.).
Tudo bem, devem merecer o que ganham. Mas o governador Jaques Wagner, na época, não fez qualquer referência a rigor fiscal, a falta de previsão orçamentária, àquilo que fala sobre aumento da PM. Resolveu todos os problemas legais e paga a Suas Excelências sem reclamar.
Ponto de equilíbrio
Há setores da Polícia Civil paulista que defendem a greve (os salários do Estado mais rico estão entre os mais baixos pagos no país para policiais). Mas, ao que tudo indica, são minoritários e não têm capacidade de mobilização.
Como o clima é tenso, tudo pode acontecer; mas as chances são de que nada ocorra.
...ói ele aí tra veiz
A empresa-líder do consórcio que ganhou Viracopos é dirigida por um ex-ministro: João Santana, que foi ministro da Infraestrutura do Governo Collor. Quando Collor e Lula descobriram que nada poderia separá-los, Lula expressou a Collor só uma dúvida sobre suas opções de Governo: por que João Santana? Collor disse que não tinha outro.
Ambos se referiram a ele pelo apelido tirado de um famoso personagem de Walt Disney, cujo nome também começa por João.
Mudando de conversa
Há várias coisas esquisitas na privatização dos aeroportos - por exemplo, o imenso ágio que os concorrentes pagaram (em outras palavras, os preços iniciais fixados eram muito baixos); ou os fornecedores de tecnologia, um argentino, um sul-africano, um francês cuja grande credencial é um aeroporto pequeno. Mas o mais importante é não se perder em discussões idiotas a respeito de “eles eram contra privatizar e agora privatizaram”.
Talvez seja uma ótima oportunidade para Suas Excelências botarem na cabeça que uma boa ideia, mesmo que seja de um adversário, continua sendo uma boa ideia; e uma má ideia, mesmo que venha de um aliado, continua sendo uma má ideia. Isso evita constrangimentos posteriores, de obrigar quem era a favor a ser contra, e quem era contra a ficar a favor.
Papo furado
Aliás, isso vale também para fatos como a greve de funcionários armados. Não é porque vai prejudicar os adversários ou beneficiar os aliados que a greve se transforma em legítima, ou ilegítima; deve-se analisar o que diz a lei - e só.
Resposta pronta
A família do ex-presidente Tancredo Neves entrou com pedido de habeas-data na Justiça Federal de Brasília, requerendo acesso a informações sobre o atendimento médico que recebeu, em 1985, e a doença que acabaria por matá-lo. Se o pedido for atendido, o Conselho Regional de Medicina de Brasília e o Conselho Nacional de Medicina terão de entregar-lhes todas as sindicâncias, inquéritos ético-disciplinares, documentos e depoimentos dos médicos sobre o atendimento.
Também poderiam ler O Paciente, de Luís Mir, que já traz as informações.
Vivendo e aprendendo
Romário, o grande centroavante que virou deputado federal, está indignado com a paradeira da Câmara: “Será que o ano só começa depois do Carnaval?”
Pois é: Romário está começando a adivinhar.
*Carlos Brickmann é jornalista