Metade da missa todos já conhecem: o pudim é um só e gente demais quer seu pedaço. As senhoras encarregadas de dividir o pudim são inexperientes, não sabem como fazê-lo e ainda por cima são pouco polidas. Os partidos aliados são acusados de querer pudim demais, enquanto o PT se lambuza numa boa.
Agora, vamos à outra metade da missa. Por que o PR luta para nomear outro ministro dos Transportes, se: a) o atual ministro é membro do partido; b) a equipe do ministro anterior, também do PR, continua nos cargos, mandando muito?
É que o ministro atual, embora seja do PR, não faz parte da rodinha. E a grande atração deste ministério, além daquelas obras e daquelas concorrências, é a fixação das tarifas de transporte. São 27 Estados, com múltiplas possibilidades de transporte, e o modo pelo qual os transportes serão escolhidos depende das tarifas. Mais ainda, ninguém presta muita atenção nessa coisa chata, técnica, que exige fazer contas. A imprensa se concentra nas concorrências, mais visíveis, e de vez em quando detona alguma. Tarifas, não: é tudo meio invisível. É tão bom que o PT também quer, e o PR precisa de um ministro forte para defender o seu.
Não leve a sério as versões de que há um lado bom e um lado ruim na briga. Na Segunda Guerra, quando Churchill, duro anticomunista, se aliou ao comunista Stalin, disse que se o Inferno declarasse guerra à Alemanha ele se aliaria ao Sr. Demônio. Montar um Governo no Brasil exige essas concessões. Dilma precisou atrair anjos e demônios.
Só que não se sabe quem é anjo e quem é demônio.
Na ponta da agulha
Esqueçamos os problemas políticos e morais. O fato é que no Congresso há operadores políticos competentes, sensíveis ao lado de onde sopra o vento. Ninguém pode subestimar Renan Calheiros ou Sarney: sempre debaixo de fogo, sempre sob pesada artilharia, são capazes de manobrar e manter o poder na Casa. Ideli Salvati, ministra das Relações Institucionais, não é uma profissional deste nível: sente-se melhor no debate, no bate-boca, do que na conversa ao pé do ouvido. Gleisi Hoffmann, coordenadora do Governo, pode ter todas as qualidades, mas é inexperiente, começou há pouco tempo.
Manobra política é para profissionais. E profissionais focados, que não se distraiam com assuntos outros.
Faz que vai mas não vai
A venda de cerveja nos estádios, durante a Copa, é um caso clássico de amadores batendo cabeça. O Governo brasileiro, quando acertou com a FIFA a realização da Copa no Brasil, concordou em liberar a venda de cerveja nos estádios. Gleisi e Ideli informaram ao Congresso que este compromisso não existia, e a permissão da venda de cerveja foi retirada da Lei Geral da Copa. O ministro Aldo Rebelo, que é do ramo, interveio. E o Governo voltou atrás em 24 horas.
Como podem as duas ministras mais importantes ignorar os acordos escritos?
O homem certo
Se for para revogar e voltar atrás, o Governo deveria colocar na área seu especialista: o ministro da Educação, Aloízio Mercadante. Foi ele que renunciou irrevogavelmente à liderança do Governo no Senado e logo revogou o irrevogável.
Arma secreta
Quem acha que o PR, que tem só sete senadores, não tem como reagir quando é preterido, está enganado: o PR tem Tiririca e pode lançá-lo a prefeito de São Paulo, atrapalhando os planos do candidato de Lula, Fernando Haddad, do PT.
Não subestime o poder de manobra do partido de Valdemar Costa Neto.
Passado proibido
O ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, do PT paulista, proibiu a exibição da novela Mulheres de Areia, da Rede Globo, no horário vespertino. Classificou-a como imprópria para transmissão à tarde.
O mais curioso é que o Ministério da Justiça esperou três ou quatro meses até a novela terminar para só então, uma semana após o final da exibição, proibi-la. Nos palanques eleitorais, isso ganhará o nome de “o ministro que teve a coragem de enfrentar a Globo”.
O passado sempre volta
Por onde anda aquele artigo da Constituição que proíbe a censura? Foi tudo um faz-de-conta ridículo, mas se a censura é proibida, por que a proibição?
Vergonha superior
Édson Flosi, repórter de sucesso, professor conceituado que há 16 anos dá aulas de Jornalismo, acaba de ser demitido pela Faculdade Cásper Líbero, em SP, por estar doente.
A Fundação Cásper Libero, que mantém a faculdade, não se manifestou; o professor Caio Túlio Costa demitiu-se em solidariedade ao colega atingido. Diz Caio Túlio, sobre o caso Édson Flosi: “Incapacitado de dar aulas, mas apto a prestar os serviços que vinha executando de assessoria e orientação, tanto de forma remota quanto presencial, ele foi desligado mesmo estando doente como está. Não me sinto bem em ambiente que comete tal ação e cujos dirigentes concordem com ela, caso tenha sido imposta por instância superior da Fundação Cásper Líbero, mantenedora da Faculdade”. É uma honra se solidarizar com Édson Flosi e Caio Túlio. E pedir à faculdade que retorne ao bom-senso.
*Carlos Brickmann é jornalista