Acabou nosso Carnaval. Mas só o nosso: a folia continua correndo solta em Brasília. Na verdade, nem é em Brasília, que o pessoal poderoso de lá prefere se esbaldar em recantos mais turísticos. Suas Excelências, nossos nobres deputados e senadores, estão de folga desde o dia 15 (e voltarão, se tudo der certo, no dia 29). Deve ser o único lugar do mundo em que o tríduo carnavalesco não tem três dias, às vezes um pouco esticados: tem 15. Depois falam mal de juiz. Comparado com os nobres parlamentares, quem tem só dois meses de férias é um escravo!
Já passada a Quarta-Feira de Cinzas, 35 dos 594 parlamentares apareceram no serviço (contentaram-se, pois, com um tríduo de folga carnavalesca de apenas nove dias). Os demais 559 continuavam cansados e cansados ficarão por mais alguns dias - quem garante que no dia 29 estarão todos de volta?
De certa forma, os gazeteiros fazem um bem ao país. O governador mineiro Hélio Garcia, em seu último mandato, passou a maior parte do tempo no Interior, numa fazenda. Um dia lhe perguntaram se isso não prejudicava o trabalho. Garcia, com sinceridade cortante, explicou: “A cada papel que deixo de assinar o Tesouro faz economia”. Pena que no Congresso o pessoal tenha se protegido de eventuais consequências negativas da persistente fobia ao trabalho: sem isso, economizaríamos, só no Carnaval, algo como R$ 50 mil de despesas com cada parlamentar.
Mas que fazer, se eles conseguiram se livrar da maldição bíblica de ganhar o pão de cada dia com o suor de seu rosto?
Me dá um dinheiro aí
Deputado é o que menos se encontra na Câmara dos Deputados. Mas, se lá estivessem, estariam seguríssimos. A Câmara já tem a “Policia Parlamentar”, que o resto do país chama de “seguranças”. Coisa fina: equipamentos de última geração, que um dia vão até aprender a usar, e viaturas, que devem ser úteis, embora este colunista jamais tenha visto uma circulando no interior da Câmara, que deveria proteger. Os seguranças acham até que são mesmo policiais.
Mas os nobres deputados acham pouco: o presidente da Câmara, Marcos Maia, do PT gaúcho, está contratando empresas terceirizadas de vigilância para as portarias. A julgar pelo comparecimento às sessões, o controle de entrada deveria ser a última preocupação dos dirigentes da Câmara.
E no entanto é preciso cantar
Ruy Castro, jornalista de primeiro time, excelente biógrafo, grande conhecedor da cultura popular brasileira, gente finíssima, de caráter e texto que disputam para ver qual é melhor, ainda está no hospital (teve uma crise de convulsões, durante a qual fraturou um ombro).
Melhora, Ruy! Melhora logo!
Mamãe eu quero
O sonho de consumo do PT é, com Lula no palanque, ganhar a Prefeitura de São Paulo. O sonho de consumo dos pretendentes do PSDB é liquidar-se uns aos outros para ter o privilégio de, enfraquecidos, tomar uma surra do PT.
É simples: goste-se ou não de Serra, é o tucano com mais condições de disputar. Mas quem acreditou em Serra, quando ele disse que não era candidato, e se inscreveu na prévia tucana, já anunciou que não desiste (são quatro nomes tão marcantes que é preciso fazer uma listinha para lembrar quem são). E até os Heróis da Resistência, os poucos fios de cabelo que Alckmin ainda ostenta com orgulho, sabem que o preferido do governador não é nem Serra nem seus oponentes tucanos, mas o peemedebista Gabriel Chalita.
Eleição e mineração, só depois da apuração. Mas, se o PSDB ganhar, não terá sido por falta de esforço para perder.
Mamãe, eu quero mamar
O caro leitor acha que a Brahma precisa de ajuda financeira? O caro leitor que não aprova maus-tratos a animais acha que é correto usar seu dinheiro para financiar rodeios? O caro leitor acha que a Lei Rouanet, de incentivo à cultura, tem como objetivo fazer propaganda do Governo Federal de plantão?
Pois é: a organizadora do campeonato de touros Brahma Super Bull conseguiu autorização do Ministério da Cultura para captar, via Lei Rouanet, R$ 6,4 milhões de reais, com os quais pretende realizar 16 rodeios em oito cidades. Em troca, compromete-se a exibir o slogan do Governo, “Brasil sem Pobreza”.
Um lembrete: para o touro entrar corcoveando na arena, uma corda chamada sedem, que lhe envolve os testículos, é puxada bruscamente, fazendo-o pular de dor.
Bala com bala
Eliana Tranchesi, que transformou a Daslu numa grande marca, morreu. Este colunista não a conhecia e jamais entrou em sua loja. O que lembra é que, para prender uma mulher doente de câncer, numa loja em que só trabalhavam mulheres, havia 30 policiais federais com coletes à prova de balas e metralhadoras (e uma emissora de TV). A Justiça a condenou - mas, antes disso, por que tamanha ostentação de força? Medo das moças?
O ministro da Justiça da época, Márcio Thomaz Bastos, jamais explicou por que tanta força. Que tal explicar agora?
A grande confusão
Numa medida provisória sobre café, a Câmara incluiu a contratação mais fácil de obras da Copa. Os deputados avisaram: sem isso, a MP não passa.
*Carlos Brickmann é jornalista