A vida moderna nos impõe uma praticidade que tem sido, muitas vezes, nociva ao ambiente. Exagero? O fato é que nem sempre algumas ações, que fazem parte da nossa rotina - as quais nos habituamos a achar normais - deveriam ser repensadas.
A atitude do consumidor consciente que luta como agente ativo na retomada de um estilo de vida menos agressivo deve ser valorizada. Sua ação é fundamental para disseminar práticas sustentáveis a partir de pequenas mudanças de hábitos no dia a dia, que muitos não dão valor, mas que fazem a diferença quanto tratamos de questões ambientais.
A cultura de que o normal é comprar bens produzidos para durar pouco está sendo questionada; discussão que tem conquistado cada vez mais adeptos. A obsolescência programada já está sendo questionada. Estima-se que uma pessoa de 70 anos de idade tenha gerado ao longo da vida 25 toneladas de lixo. Calcula-se que o brasileiro produza um quilo de lixo domiciliar por dia; já os americanos, cerca de 3 quilos diariamente. E a maioria deste lixo é de material de degradação indefinida.
Muitos países já perceberam este problema, e, respondendo ao clamor desse consumidor consciente, há anos adotaram medidas de proteção ao meio ambiente. A redução da circulação das sacolas plásticas, por exemplo, foi uma das ações comuns a vários países nos cinco continentes. A Itália foi o primeiro país europeu a banir a sacola descartável. Com isso tirou de circulação 20 bilhões de sacolas por ano. Irlanda, Alemanha, França, Canadá, México passaram a cobrar por esse tipo de embalagem para acondicionar mercadorias justamente para desestimular o hábito. A China, que utilizava em média 3 bilhões de sacolas por dia, proibiu também a produção, distribuição e uso das sacolinhas. Desde 2002, em Bangladesh, uma lei proíbe a fabricação e distribuição das sacolinhas. A decisão foi tomada após as autoridades descobrirem que elas causaram uma grande enchente, que arrasou o local. Hoje, Bangladesh é um dos principais produtores de ecobags.
As discussões sobre a adoção de hábitos mais sustentáveis ainda é recente no Brasil. Mas o caminho está sendo trilhado. Os consumidores brasileiros já dão mostra há muito tempo sobre sua preocupação com o meio ambiente. A Eco 92 foi um movimento fundamental para inserir o Brasil nas discussões e hoje constatamos, felizmente, que muita coisa mudou: coleta seletiva, reciclagem, certificações e discussões sobre modelos alternativos de geração, redução e economia de energia já fazem parte da agenda dos governantes. Mesmo que tardiamente, o país aprovou a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Após 20 anos de discussões, a lei saiu do papel em 2010 e passará a vigorar em 2014. Expressões como logística reversa, compartilhamento de responsabilidades, coleta seletiva, separação de lixo orgânico e reciclável, aterros sanitários, fim dos lixões e resíduos perigosos passaram a fazer parte do cotidiano empresarial, governamental e da sociedade.
Em 2012 o Brasil passará a ser palco novamente desse movimento mundial, ao sediar a Rio + 20 - uma grande oportunidade para referendarmos nossos avanços e escolher novos caminhos sustentáveis.
Por fim, ao defender o fim da cultura do descarte, a APAS – Associação Paulista de Supermercados aceitou o convite do Governo do Estado, Prefeituras, Ministério Público, Secretarias de Meio Ambiente, Procon e entidades não governamentais ligadas ao meio ambiente para executar ações de sustentabilidade, saindo da teoria para a prática, refletindo exatamente o anseio da sociedade.
Assim, cumprimos com alegria no dia 15 de março, Dia do Consumidor, a importante obrigação de promover uma ampla distribuição de sacolas reutilizáveis nos supermercados do Estado de São Paulo, conforme acordado no TAC, que estipula prazo limite até 03 de abril para concluir o prazo de desagregação da cultura do descartável.
Com este trabalho de conscientização e o estímulo da discussão sobre sustentabilidade, a APAS dá ao consumidor a chance de exercer seu poder de mudar uma realidade visando à construção de um planeta melhor para as futuras gerações.
*João Galassi é presidente da Apas – Associação Paulista de Supermercados