Houve um tempo, no final dos anos sessenta, que depois de muitas reclamações do público, contra os
condutores, a Prefeitura decidiu que os táxis deveriam trazer, pintado nas portas, os horários em que não poderiam recusar passageiros. Isso aconteceu porque, sempre que alguém solicitava uma corrida para pontos distantes, a recusa era imediata e os motivos, muitos. Poderia ser desde a falta de segurança, ou mesmo a falta de passageiros no retorno, quando os taxistas diziam que não queriam “voltar batendo latas”, o que significa prejuízos.
Aos poucos, algumas peruas Kombi passaram a ser usadas por moradores, suprindo a falta de táxis. Eles se prontificavam a levar aqueles passageiros recusados pelos taxistas. Com o tempo, esses transportadores foram ganhando força, se uniram, e deram lugar às vans que, hoje, respondem por extensa fatia de mercado no transporte de passageiros. Só que, à medida que ganhavam força, os taxistas não perceberam os pequenos sinais, representado pelas velhas peruas Kombi.
O mesmo aconteceu com as feiras livres. Da antiga marca Pegue Pague, nada sobrou. Mas as grandes redes de supermercados aí estão para mostrar que os pequenos sinais de mudança também não foram captados pelos feirantes. Antes, responsáveis pelo abastecimento de todas as compras da família, os feirantes não perceberam a forte concorrência e, hoje, a feira não é nem sintoma do que foi, no passado. Luta, mas perde forças a cada dia.
Esses pequenos sinais nem sempre são notados pela sociedade. No passado, a fila de alguns caminhões nos nossos portos foi vista como normalidade. Com o passar do tempo, com o aumento de nossa produção agrícola, a tal normalidade se transformou em imensos congestionamentos de caminhões, à espera de descarregar no porto. Outro pequeno sinal que passou despercebido...
O mesmo se vê, agora nos nossos aeroportos. Os primeiros sintomas foram sentidos há alguns anos, e chegou ao estágio atual. O gigantismo de nosso principal aeroporto é deixado de lado, sempre que o passageiro perde horas à espera de uma vaga, no estacionamento; ou até que a bagagem surja na esteira. A paciência se esvai na imensa fila do check In, ou na confusão da multidão atenta aos painéis de aviso dos vôos em atraso, cujos motivos pouco interessam aos que não têm tempo a perder.
Na verdade não nos acostumamos a ficar atentos aos pequenos detalhes. Muitas vezes não esquecemos de que é a pequena chama que se converte em um imenso incêndio; não sabemos, ou não ficamos atentos à pequena coceira que, com o tempo pode se transformar em uma ferida incurável. Foi assim com os taxistas, foi assim com os feirantes, foi assim com a nossa segurança.
Eis um outro exemplo. Para não perder tempo nos distritos policiais, deixávamos de registrar os pequenos delitos; com o tempo, os autores de pequenos se transformaram em autores de grandes delitos, e o quadro da segurança se agravou, em todo o país. Também foi assim, quando alguns viciados que se reuniram nas ruas próximas à Estação da Luz, e que depois formaram a cracolândia. Como se vê, somando pequenos sinais, vamos acumulando erros que ganham proporções assustadoras. Só não sabemos se de fato é possível aprender com eles.
*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS)